segunda-feira, 6 de julho de 2020

VIVENDO EM RIBEIRA/SP



Entre setembro de 1987 e janeiro de 1990, aproximadamente, vivi com a minha família na casinha da foto acima, numa propriedade rural de 13 alqueires localizada a 2 km do Bairro Ribeirão da Várzea.
Nossa vida ali não foi fácil. Foram apenas 2 anos e alguns meses, mas parece que foi uma eternidade. Como atividade principal, meu pai praticava a pecuária e, eventualmente, a agricultura, conforme se observa na terra mexida que aparece ao fundo, na parte superior esquerda da foto.
Diariamente, meu pai vendia leite para a comunidade do Bairro. O que mais se cultivava eram milho, feijão preto, mandioca e banana, que também faziam parte da nossa alimentação. Vivíamos da escassa renda gerada pelo leite e pela lavoura, quando havia colheita. Em razão dessas dificuldades, houve um curto período em que não tínhamos dinheiro nem para comprar arroz; comíamos apenas o feijão preto e a mandioca que a terra nos oferecia. 
Íamos a pé para a Escola do Bairro. Tive grandes Professores e fiz boas amizades na Escola, mas não gostava de morar ali. Era uma região bastante montanhosa, úmida e fria. A cidade mais próxima - Ribeira - ficava a uma distância de mais de 40 km. Hoje, parece perto, mas para quem só tinha charrete, dependia de ônibus e quase não tinha dinheiro para a passagem, era muito longe! Durante esse tempo em que vivemos lá, fui de ônibus à cidade no máximo duas vezes, provavelmente para consultar médico ou dentista. 
Talvez em razão das dificuldades por que passávamos, aquele, para mim, era um lugar feio e triste. Sonhei várias vezes com o dia em que iríamos embora dali. E esse dia chegou, não exatamente como eu havia sonhado. Por volta de novembro de 1989, o comprador da fazenda vizinha interessou-se pelo nosso sítio e pagou um preço bem acima do que realmente valia. Meu pai nem pensou muito para aceitar, pois já estava desanimado com a região não muito favorável à criação de gado leiteiro, seu trabalho predileto. Ocorre que a mudança não foi imediata, pois demoraram alguns meses até que meu pai encontrasse outra propriedade numa região melhor para o gado e também pela qual pudesse pagar. No final de 1989, fui passar as férias escolares na casa dos meus avós paternos, em Paranapanema/SP. Quando as férias estavam chegando ao fim, soube que não mais voltaria para lá, pois meus pais haviam comprado uma propriedade rural em Barão de Antonina/SP. Da casa dos meus avós, eu iria embora para a outra que seria a nova morada por 8 anos da minha vida. 
Encerrado o período em Ribeira/SP, eu tinha 11 anos e havia concluído a 5.ª Série do antigo 1.° Grau. Enfim, eu estava livre daquele lugar de onde sonhei um dia ir embora, apesar de não ter sido do jeito que imaginei. Eu queria ir embora dando "tchau" em cima do caminhão de mudança e sorrindo de orelha a orelha, feliz pela expectativa de uma vida melhor. Não foi bem assim, mas o importante é que a tão sonhada mudança aconteceu. Iniciei o ano de 1990 com vida nova em Barão de Antonina. Ali, nossa vida foi menos difícil, e fui um pouco mais feliz do que em Ribeira. Embora ainda tivesse que andar bastante a pé para chegar à Escola, o estudo foi muito proveitoso. Meus pais sempre nos incentivaram a estudar dizendo: "Não temos patrimônio, e a melhor herança que poderemos deixar para vocês é o estudo." E eles estavam certos!

Continua na postagem A TRILHA ASSUSTADORA.

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